sexta-feira, 6 de abril de 2012

“Política às rebatinhas”.

Lima Barreto escreveu em Recordações do escrivão Isaías Caminha: “Foi com grande surpresa que não senti naquele doutor Castro [deputado] [...] nada que denunciasse tão poderosas faculdades. [...] Nada nele manifestava que tivesse um forte poder de pensar e uma grande força de imaginar, capazes de analisar as condições de vida de gentes que viviam sob céus tão diferentes e de resumir depois o que era preciso para a sua felicidade e para o seu bem-estar em leis bastante gerais [...]. [...] o legislador tinha que ter ciência [...]. A Quiromancia e a Matemática, a Grafologia e a Química, a Teologia e a Física [...]”.  Observa ainda: “[...] as palavras de Fagot [deputado] lhe morriam nos lábios: movia a boca e gesticulava como um doido furioso”.
Qualquer semelhança entre a cena descrita e a nossa política atual é mera obra do acaso... É incrível como ainda nossa política contemporânea é tão alquebrada! É deveras lamentável que em tantas décadas desde que o livro citado foi escrito pouco ou nada se tenha alterado no agir de nossos políticos. Quiçá se a política, via de regra, fosse exercida por indivíduos graduados, intelectuais, com histórico límpido, fibra moral, ética, valores enfim (quanta pretensão...), essa anarquia, ou melhor, a entropia da política brasileira tivesse termo. Mas, o que se pode esperar se até mesmo um palhaço de letramento duvidoso se fez eleito deputado federal (o mais votado!), senão um circo? Um circo onde “doidos furiosos” proferem com infeliz assiduidade discursos verborrágicos, no afã de transmitirem a ideia de defenderem ideais benéficos a seus representados, quando, na verdade, em maioria dos casos, desgraçadamente, o que vigora é o pungente interesse subjetivo.
Transcorrem os anos e a inércia da sociedade frente a essa tétrica realidade se faz preocupante, pois enquanto os de fato “doutores Castro e Fagot” da atualidade enchem os bolsos de dinheiro público, o povo é cada vez mais lesado, com um sistema de saúde coletivo defectivo que só funciona exemplarmente no papel, um processo educacional que não foge a essa circunstância... dentre outros tantos quesitos de monta pública que conservam-se “a ver navios” e que somente caem às vistas de nossos políticos quando aproximam-se as eleições. Ora, claro! Pois eles têm consciência que novamente o povo lhes “concederá a confiança”...
Recorde-se que um terno não representa a capacidade intelectual de um político. Zomba Barreto quanto à ostentação intelectual do trajar: “[...] as gravatas pareciam dizer-me: Veste-me, ó idiota! Nós somos a civilização, a honestidade, a consideração, a beleza e o saber. Sem nós não há nada disso; somos, além de tudo, a majestade e o domínio!”.
Desperte sociedade brasileira e observe as (in)consequências que possuem o voto, a eletiva de um representante político. O jogo de interesses particulares que se sustenta por detrás da política nacional. Dentro em pouco teremos novas eleições, destarde, rogo-lhes que avaliem mais criteriosamente seus escolhidos, que acima do interesse pessoal da escolha, ponha-se o bem-estar da sociedade. Que se faça ver através da espessa bruma da aparência (no sentido mais amplo do termo), o verdadeiro intuito de quem lhe pede a confiança do voto, do contrário, vestiremos, ou melhor, continuaremos a vestir a Túnica de Néssus dos políticos.
Farias, M. S. “Política às rebatinhas”. Abril de 2012. http://livredialogo.blogspot.com/
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